Belo à portuguesa

Sempre pensei que não havia nada mais belo que um fio de ouro pendurado por cima da camisa às flores ou do belo pullover de lã.

Na realidade toda esta teoria foi por água abaixo dado que vi hoje algo melhor que o fio de ouro com a efígie de Cristo.

Vi um crucifixo, prateado, com um reluzente lacado azul turquesa, e uma figura de Cristo em cima pespegada, balançando sobre um peito cabeludo de um qualquer Zé da Conquilha.

É encantador ver o habitante deste jardim à beira mar plantado e a forma como combina a suas indumentária e respectivos acessórios.

Ao domingo dá-se sempre o desfile da baixa moda pelos corredores dos centros comerciais do nosso país.

Enquanto atira cada pé para a frente da barriga, numa tentativa de demonstrar a calma e descontração enquanto acompanha a mulher, sogra, tias, filhos, primos e sobrinhos, o homem português, mostra a sua incapacidade de dominar o bicho mulher no seio do seu próprio lar, usando os pullovers que a sogra escolheu com ela com o mesmo gosto com que escolheram os naprons que cobrem as costas do sofá em napex.

Por baixo de pullovers com cores saidas de uma qualquer decoração de natal, combinadas com o último roxo e violeta que a moda feirante ditou, surgem as camisas poliester de gola surrada e motivos florais ou uma qualquer camisa de flanela, que compões o ramalhete com uma calça de côr ainda mais indefinida, copiada ao galã da novela venezuelana que passa por esta altura nas tardes televisivas.

Um destes Domingos, durante mais um talk show do Herman José, aparecem dois personagens ditos hipnotistas que convidavam uns quantos elementos da assistência a virem fazer figuras tristes no palco.

Até aqui nada de extraordinário, dado que os entrevistados do Herman José têm sido de um nível tão baixo que mais parece o Jerry Springer.

Mas qual não é o meu espanto quando o realizador, em mais uma tomada arrojada, foca em grandíssimo plano um belo par de meias turcas brancas, com um símbolo da Nike, tal cereja no topo do chantilly.

O Zé Bento, colega dos meus tempos de estudante, dizia que não havia nada pior que um homem de meia branca, tendo em momentos atingido tal fervor religioso nas suas afirmações que chegou a comparar o acto de andar de meias brancas com o acto e bater na mãezinha, rematando sempre que a meia branca era bem pior.

Voltando ao programa do Herman José, nada mais necessário num caso de credibilidade em hipnotistas, que se discutia com algum desinteresse, do que um belo fato de poliester preto listado acompanhado da respectiva meia branca, sem esquecer o sapato brilhante de bico.

Aparentemente de talk show passou a concurso, e o vencedor era o que fizesse a figura mais triste. Uns para um lado a dançar, outros a rir de um filme imaginário. Isto tudo leva-me a uma conclusão:

– Tenho de arranjar algo mais útil para fazer com o meu tempo.

Primeira vez

A minha primeira experiência sexual nada teve a ver com as que para aí se descrevem nos romances de cordel.

Pensando bem, nos romances de cordel, nunca é a primeira experiência do homem, mas sempre da mulher, como se os homens, por não terem hímen, nascessem já com toda a experiência carnal, conhecedores do felatio e sabedores do cuninlingus.

Imaginam as virgens, talvez, que os pais, mentores iniciáticos do sexo masculino, levam os seus filhos a antros de despudor, onde, com o auxílio de uma qualquer concubina de ocasião, ensinam os seus filhos na arte de pular para toda a cueca.

Na realidade foi Eva quem incitou: “”Deixa de ser menino da mamã e dá-me lá uma dentadinha.”” E vejam no que deu.

Talvez nunca tivesse existido a maçã e os autores da bíblia para não começarem a escrever logo barbaridades no primeiro capítulo da humanidade, tivessem substituído a dentada nas carnes de Eva por uma inocente maçã, mas isso não explicaria a referência à sabedoria, pois que eu cá pouco ou nada aprendi.

Voltando às ditas virgens, entregam-se em sacrifício aos seus jovens amados, que tal como elas, de experiência só têm a de estarem todos cagados (De medo, claro).

Pois a minha primeira experiência foi, acima de tudo, algo de memorável, não pelo seu significado, mas pela sucessão de acontecimentos estranhos que se foram dando de forma incontrolável, enquanto às mãos de duas pequenas mais experientes, servi de brinquedo durante um bom bocado.

Embora noutros sítios a história dos ritos iniciáticos masculinos até possa ser verdade, no Algarve, onde passei a minha infância e amanheci na minha puberdade, existe um tipo de visitante turístico a que é dado o nome de bifas, feminino de bifes.

Talvez a geração anterior as apelidasse com mais correcção ao chamar-lhes Camones, mas nada disso alterou a verdadeira essência deste turismo algarvio, onde grupos de jovens estrangeiras procuram a companhia, inocente ou não, de rapazes algarvios bronzeados com a sabedoria de outros verões.

Com algum bronze na pele e a inexperiência de uma virgem, levei os meus intentos a bom porto quando consegui encantar uma criatura belga elegante e de corpo bem exercitado. Corria os 100 metros rasos sem um aí e em tempo recorde.

Ela dizia “”Embrace moi.”” e eu, praguejando pelas aulas de francês a que tinha faltado, abraçava-a enquanto ela se ria, deixando-me ignorante de que o que ela queria dizer era “”Beija-me.””

Não tardou até que uma bela manhã a fosse visitar a casa do meu amigo Paulo Bolacha onde ela e “”sa copine”” estavam a passar as férias.

Descrédula da minha virgindade, pretendeu a espevitada menina partilhar comigo da sua experiência.

Acedi em partilhar, mas contrariei-lhe o capricho de pretender manter uns boxers que ela vestia para dormir, retirando-lhos enquanto pensava que talvez não devesse estar a fazer tudo bem, e como seria que ela iria avaliar a minha actuação, e se o meu era grande que chegasse e outras dúvidas de um qualquer homem de meia idade.

Foi-se a bela moçoila para ali a retorcendo, um gemido após o outro, enquanto eu tentava dar o meu melhor, sentido que talvez não fosse bem aquilo ou que a amiga dela que estava no outro quarto poderia entrar em qualquer momento.

“”Deu-se então o momento em que os corpos entrelaçados gemeram em conjunto””, e eu agradeci a providência da borrachinha de que me fazia acompanhar diariamente à já algum tempo, na esperança que o dia da primeira experiência chegasse ou que uma criança me pedisse uma balão para brincar.

Mas ao contrário das velhas barbatanas de borracha que ano após ano perdiam a elasticidade até ficarem ressequidas e quebrarem, durou a bela da borrachinha durante toda a violência do momento, ficando no entanto o característico cheiro a borracha no ar.

Assim, após satisfeito o público, caiu o pano, e os actores, eu a gerir a informação agregada do momento, ela a pensar que a minha apatia poderia ser sinal de um acidente vascular cerebral. Eu ainda a tentar ver se tinha feito os passos todos do bailado, ela entretida a avaliar se eu iria desmaiar.

A minha apatia, confesso, vinha da felicidade da descoberta, da estranheza do momento e do significado pouco moral do acto consumado sem sentido.

Ela, decidida que a minha apatia era preocupante, levou-me até ao quarto onde estava a sua “”copine”” e indicou-me uma cadeira, acendeu-me um cigarro e mandou-me fumar enquanto ambas me observavam divertidas a fingir que fumava e a pensar como é que haveria de reagir.

Aparentemente a amiga sabia de tudo. Já ninguém guarda um segredo.

A manhã arrastou-se suavemente até à tarde, misturando-se com ela nas suas actividades… Mas isso agora são outras histórias, e não seria a “”Primeira vez””.

Esta história não têm moral por relatar uma actividade que se considera amoral.

Ninguém casou, não houve filhos e não viveram no maior castelo do reino, mas eu fui feliz para sempre.

A Oeste nada de novo.

Pelo caminho muitas coisas mudaram, muitos acontecimentos se deram.

Caíu a ponte, o Ministro e o governo, cada qual pela sua razão.

A ponte caíu porque os ministros não gerem os seus ministérios e institutos com a devida firmeza; o ministro porque precisava de renovar a sua imagem até às próximas legislativas; o governo porque Portugal esquece tudo menos a arrogância.

Dificilmente poderemos esquecer também os acontecimentos em torno dos atentados de 11 de Setembro ou as palavras eloquentes do Presidente dos Estados Unidos da América: “”Dead or alive””.

Aparentemente “”Alive and kicking”” é como está o barbudo mais famoso dos nossos dias. Não obstante continuam todas as partes a afirmar que o viram e à giza malandro de rua dizem: “”Bin Laden? Um senhor forte e bem penteado? Vi, vi. Foi por ali.””

Vai ser difícil aos Estados Unidos e os outros países chamados de industrializados de se verem livres dos senhores Bin Ladens do 3º Mundo uma vez que por cada um que eliminam existe uma população inteira de subnutridos que esteve a ser criado para os substituir.

E a paixão da educação do nosso Primeiro Ministro não tem forma de suplantar os investimentos que os senhores Bin Ladens podem fazer, nem as bombas de combustível podem terminar com os seus sucessores.

O comércio está montado:

Os pobres plantam as papoilas e produzem os estupefacientes que exportam para os outros países, que bombardeiam os seus produtores sempre que estes começam a criar massa critica para evoluírem.

É uma espécie de simbiose entre os países ricos e os países pobre em que os pobres criam razões para os ricos comprarem armas, descarregando-lhes o suprimento de munições no quintal de cada vez que o negócio está pior para os fabricantes de armas.

Enfim… Nada de novo.

Aparentemente em Portugal é um bocadinho mais difícil de montar estes esquemas. Antes de mais nada porque os nossos Bin Ladens estão no futebol e depois porque mesmo que quiséssemos atirar bombas nos estádios, o nosso arsenal está tão por baixo que poderíamos não atingir os árbitros e treinadores e ainda poderíamos falhar algum adepto.

Naturalmente que para ser a panaceia total ter-se-ía de atingir ainda os dirigentes de futebol que na época de defeso em lugar de investirem no plantel, investem em árbitros, o que me leva a perguntar se os programas de desporto não deveriam passar a ser tipo magazine económico com as cotações dos mesmos a passar em rodapé.

Têm-se assistido a tantas más representações em torno do desporto rei em Portugal que mais parece uma novela mexicana.

“”- Pinto, você mi ámá?””

“”- Eu ámu vócêi, mas só até ao Sporting defrontar o Porto novamente. Penso eu de que.””

Mãe, dá-me euros!

Cada nota que observo, mais me dá a sensação que acordei por engano no estrangeiro, em alguma ex-república soviética com o nome acabado em “”ão””. A causa disto é dos caracteres cirílicos e das ilustrações fantásticas.

Para onde foi o nosso criativo Bocage? E o cobardolas do Pessoa? Onde foram imprimir as faces dos nossos navegadores?

O nosso escudo era tão enganador como elogios de mãe que acha sempre que o seu filho é lindo.

Tivemos bancos que se recusaram a trocar moedas e moedas trocadas nos trocos, e isto tudo à conta do Euro.

Sim, porque dantes não haviam bancos a cobrarem taxas indevidas e lojistas trafulhentos a darem mal os trocos. Isso era outras realidade, tipo Quinta dimensão””:

“”Você acordou num país onde a moeda não é sua, o governo não governa e a justiça está a saque!””

Este cenário era impossível de ter acontecido em Portugal.

Na locução das ondas de rádio, as vozes refazem-se em piropos e opiniões sobre o Euro.

Há os que concordam e os que não queriam, mas todos dizem algo:

“”Então o que acha da nova moeda, minha senhora?”” – interpela o jornalista de 15 anos.

“”Isso para mim é uma grande confusão. Eu cá vou sempre usar os escudos.”” – responde o reformado refilão. Engano seu, pois que este mês a reforma vai-lhe parecer ainda menor pela conversão do seu valor em Euros.

Quando os homens se casaram com as máquinas

O homem tem grande dificuldade em adaptar-se ao funcionamento de qualquer objecto mecânico em que não consiga relacionar a causa efeito directamente.

Quando houver lugar a alterações no sistema, o utilizador deverá ser informado Continuar a ler “Quando os homens se casaram com as máquinas”