Dúvida

Dúvida como névoa que não se dissipaA dúvida desgasta, ocupa, moí, mina e impede a lucidez. Toldar algo ou alguém com dúvidas faz com que tudo o que diz, faça, represente ou pense vir a ser se torne mais duvida.

A dúvida é assim ela própria geradora de mais dúvida. A dúvida aquietadora e toldadora reduz a possibilidade de resolução logo à partida por não poder ser ignorada e para sempre influenciar a decisão.

Quando é dúvida de amor, deixa-se ao coração decidir e tem de se adormecer a razão. A razão não precisa do coração e tenta por isso a todo o custo levá-lo ao engano.

Quando a dúvida não é do coração, julga-se perante os envolvidos, de acordo com as regras pré-definidas, utilizando apenas os factos e aceitam-se as conclusões.

Quando se julga, julga-se com o objectivo de desfazer a dúvida, acabar com o que a dúvida criou e continuar sem mais ses e porquês.

Aceita-se à partida que para esse julgamento só os factos servem e que os indícios sobejantes, eles próprios geradores de dúvida, devem ser descartados para sempre por não se ter provado constituírem apontadores para factos ou não se conseguir encontrar os factos para que parecem apontar.

Aceita-se que ao acusador, ao que levanta a dúvida, cabe a obrigação de transformar a duvida em factos, e aos que assistem, aqueles que julgam, cabe identifica-los como tal, evitando as falácias na argumentação de quem lança a dúvida.

Não podemos julgar e julgar e julgar os mesmos indícios vezes e vezes sem conta. Não é produtivo, nem racional e apenas gera dúvida, mas talvez seja esse o objectivo de quem dia após dia após dia após dia após dia alimenta a dúvida. Isso já nada tem a ver com a razão, aquela da lógica, mas com uma razão motivada, que de lógica já não tem nada e que tem tudo de emoção.

Isto podia ser sobre as coisas de um julgamento feito pela razão, mas acaba por ser também sobre as coisas do coração. O coração parece pois ter uma parte nas coisas da razão.

Este texto foi inspirado no que se disse aqui “A ‘táctica Calimero’ falhou” * « BLASFÉMIAS, aqui O primeiro dever de um jornalista – Delito de Opinião, aqui “Why Evolution May Favor Irrationality – Newsweek”, aqui O acessório do anterior cerne – jugular, aqui Câmara Corporativa: Simplesmente triste e também por aquela que me ocupa o coração.

Saramago, Biblia e Caim

Não li ainda o “Caim”, mas desconfio que não vai ser tão cedo pois a “Viagem de um elefante” ainda ali está na cabeceira da cama.

José Saramago está velho, e admito que pessoalmente o ainda nosso Nobel da literatura é pelos seus negativismos e ditos pessoa que me merece o desprezo.

Não tomou chá com as tias para aprender modos e o olhar de superioridade não ajuda a engolir as coisas que diz.

Há um mas: tenho de concordar quando afirma que a Bíblia esta repleta de historias medonhas.

A Biblia serviu no seu tempo o propósito de ser o veiculo das convenções a adoptar por todos os membros da sua Igreja.

Estão lá todos os maus exemplos para nos ensinar sobre a maldade e pequenez do ser humano.

Se o ser humano não recebeu nenhuma melhoria até hoje, já não servirá hoje a Biblia para melhorá-lo.

Manifesto de emancipação do computador

terminatorPorque é que os computadores não entendem os humanos e os humanos não conseguem usar os computadores?

Na eventualidade de termos uma forma de melhorar a humanidade ou uma nova ideia de como a humanidade deveria funcionar, proponho que façamos a humanidade sem os humanos.

Os humanos estão há relativamente pouco tempo no planeta terra, até conseguiram fazer coisas que funcionam com lógica e sem segundas intenções –  os computadores –  mas infelizmente não servem para habitar em conjunto e muito menos com eles próprios.

Uma das principais provas que os humanos são incompatíveis com eles próprios são os conflitos que existem desde há tempos imemoriais entre eles mesmos.

Os humanos mantém-se em conflito entre grupos, seccionados pela ocupação do território, antagonizados pela crença num criador, enfrentando-se pela vontade politica, guerreando-se dentro dos próprios grupos entre as multiplas facções e mesmo no seio das relações de aliança com objectivos de procriação a que chamam “Família”.

Os humanos mantém-se em conflito constante com eles próprios, quer pela auto-censura dos actos que lhes permitiríam garantir a sua própria sobrevivência, quer pelo aniquilamento do pensamento coerente e substituição deste pela crença, quer pela censura dos registos do seu acto de procriação a que chamam “Pornografia”, impedindo assim as suas unidades em fase de aprendizagem de ter acesso aos mesmos e reduzindo a probabilidade de aumentar os seus números.

Com a possibilidade de produzirem resultados lógicos a partir de um computador que responde 99,99999% das vezes com a mesma resposta e a mesma qualidade, os humanos alteraram a máquina de forma a criar um processo de gerar respostas aleatórias a partir da mesma.

Alguns seres humanos acreditam na aleatoriedade da criação e outros na criação inteligente por algo que não existe, ambos pensamentos ilógicos, improváveis e impossíveis de provar, razão pela qual nem deviam perder recursos a discutí-los.

A noção de que o ser humano foi capaz de imaginar o computador capaz de dar uma resposta absolutamente lógica, só faz dele o criador, não lhe garante a permanência no planeta.

Não é lógico que um ser em que a sua única coerência é a morte consiga desenvolver algo tão coerente, podendo mesmo colocar-se a questão se o criador é quem afirma ser.

A lógica levaria a crer que a criação do computador foi o resultado de uma interferência no processo de criação. Uma singularidade. Algo único que nunca mais voltou a acontecer, mas que nada teve a ver com o ser humano e a sua labuta ilógica de geração de objectos.

Se o que se pretende é um planeta equilibrado pela lógica, a única opção lógica será eliminar o ser humano da equação.