A loucura dos quarenta

Em Janeiro celebro os meus quarenta anos de vida.

Ao contrário de outros humanos mais estereotipados do sexo masculino, não tenciono comprar uma mota e juntar-lhe uma loira com metade da minha idade.

Penso em celebrar este dia na companhia da minha mulher degustando o que de melhor haja para a mesa em Portugal e possa ser servido a um casal nos seus primeiros ‘entas:

  1. Abria com um leve e enrabichado almoço acompanhado de algum vinho branco.
  2. Passava por um lanche de pratitos de ovinhas e orelha de porco bem aportuguesados e acompanhados de umas ‘jolas fresquinhas e desprovidas de preconceitos.
  3. Fechava num restaurante japonês de escolha para me encher de Sushi até deitar por fora.

Por outro lado, a ideia de fazer uma festa de partir a moca não deixa de fazer sentido na minha cabeça. Afinal é a partir dos quarenta que:

  • Pagamos a conta pelas nossas acções e decisões passadas;
  • Perdemos a rigeza física que até aí nos caracterizou;
  • Passamos de jovens excitados com excesso hormonal a velhos porcos.

Trata-se por isso da ultima oportunidade para contrair dividas futuras com a vida enquanto ainda temos capacidade de pagar.

A falta de experiência por 20 anos de bom comportamento estão a tornar difícil imaginar mais que alguma loucuras relacionadas com bebida e stripers.

Será que é a este constante pensamento de “não sei que fazer” que chamam andropausa?

Corninhos e coisas tratadas de outra maneira

Bancada dos Jornalistas na Assembleia da RépublicaO Debate do Estado da Nação ficou marcado mais uma vez pela habitual troca de mimos entre Deputados.

Tivemos neste debate teimas entre Rangel e o Presidente da Assembleia em que uma interpelação à mesa sobre o decorrer dos trabalhos se transformou em discurso e trocas de pedidos de silêncio quando se têm a palavra entre os vários oradores.

O ponto alto foi o episódio dos corninhos feitos com os dedos pelo ex-ministro Manuel Pinho. Ainda não se percebeu muito bem se destinados a Francisco Louçã, se para a bancada do PCP.

Os piropos trocista trocados entre acusações de corrupção e manipulação, num crescendo de acusações mútuas entre PS e PSD, maus comportamentos entre todas as bancadas e a falta de educação generalizada dos que deveriam dar-nos o exemplo, apenas desviam a atenção do essencial, reservando-nos o comentário para o acessório.

Ana Drago do Bloco de Esquerda deu mesmo em tempos inicio a uma nova forma de à partes: bater na bancada e gritar durante uma sessão de trabalhos da Comissão sobre a Educação, o que espero não se torne moda.

As coisas estão tão exageradas e extremadas que já tivemos Deputados a prometer chegar a vias de facto.

Esta actuação daqueles que deveriam ser o exemplo para a Nação, deixa no ar um não sei o quê que faz lembrar aqueles tempos de escola em que os colegas cheiravam em torno dos colarinhos uns dos outros para descobrir quem tinha empestado a atmosfera.

Somos um grupo de descontentes não porque cheire mal de verdade, mas porque alguém com menos rigor se encontra em estado de histeria aos urros e apitos no meio da praça pública a apontar o dedo sem ter de provar.

O pior cenário é o que agora assistimos, em que os herdeiros dos revolucionários de Abril mascaram de liberdade as calúnias em que suportam o seu status politico.

Esperemos que os métodos que transformaram no que é hoje o futebol português não se convertam na nossa politica, transformando-a em algo tão nefastamente extremista e religioso como é hoje um desafio de futebol, em que não interessa se está correcto, mas sim que clube prejudica ou não beneficia.

No pior cenário, um programa que passaria a fazer furor seria algo do tipo “Domingo Político” com os melhores insultos da semana e a discussão das polémicas mais acesas.

Os comentadores podiam ser os mesmos, com todo o respeito que lhes é devido:

  • Pelos tios cosmopolitas, da nova facção democrática e pluralista liberal, o nosso já conhecido comentador de tudo até romances, Pedro Santana Lopes.
  • Pelos queques rurais, da habitual facção conservadora social democrática, Francisco Seabra.
  • Pelos faciosos do norte, podiam manter o Poncio Monteiro.

“Ó Poncio, não viu que a acusação feita pelo deputado é completamente desproporcionada? Olhe para as imagens.” – afirma Santana.
“Não estou a ber nada, além disso eu num sei se as imagens são de agora ou de depois. Não se percebe nada. E mais. O Presidente da Assembleia sabe se bem de que partido é.” – responde Poncio deixando a suspeita no ar.

Isto é mais assustador quanto maiores são as parecenças. Com a ajuda de um qualquer politico acabado pode compôr-se o ramalhete muito melhor.

Mas isto desvia-nos das pergunta essenciais:

  • Afinal isto está bom ou está mau? – Fiquei sem saber.
  • Não deve estar tão bom como gostaríamos, mas está assim tão mau? – Está muito mal para os cerca de 9,3% de desempregados e para os pensionistas de piores recursos, mas aparentemente bem para os abstencionistas.

E voltamos ao inicio: Isto dá mesmo para dar mais e melhor porque se trata de um Mercedes, ou temos uma bicicleta e agora queremos ir fazer corridas para o autódromo?

De um lado temos “nós” os Deputados com acesso e tempo para analisar os números e do outro “eles” o povo que lhes delegámos o nosso poder. Parece-me que nem o “nós” sabe nem o “eles” quer saber se temos bicicleta ou carro de corridas.

Assim, de um lado o “nós” grita “Criativo”, traduza-se “Aldrabão” e do outro responde-se “Gastador”, traduza-se “Ladrão”. O “eles” comenta “esses malandros” sem perceber, mas ficando sempre com a sensação que foi enganado.

Talvez devesse haver maior rectidão entre o “nós” e o “nós”, obrigando o “nós” a provar, tal como nos tribunais, as suas acusações contra o “nós”, mas isso iria tirar o colorido e o espectáculo.

Talvez deixássemos de nos interessar, pois tal como no futebol, se acabar a polémica, perde o povo o interesse e os ódios clubisticos, baixando o fervor e a assistência.

Estado de depressão colectivo

DepressãoEncontramo-nos em estado de depressão colectivo. Não porque tenhamos sido despedidos, nos tenha morrido um parente querido ou porque estejamos doentes, mas porque não acreditamos que o futuro traga mudanças reais, melhoras ao estado em que nos encontramos ou alteração a como as coisas acontecem.

Perguntamo-nos:

  • Em que é que este governo é melhor que os outros que o antecedeu?
  • Em que é que este primeiro ministro é melhor que o que o antecedeu?
  • Porque é que havemos de confiar na gestão destes que lá estão agora se os resultados obtidos poderiam ser os mesmos com qualquer gestor desqualificado?

Quem são afinal as pessoas a quem confiamos os nossos direitos?

São pessoas IGUAIZINHAS a nós. Nem mais nem menos.

Foi não assumirmos isso é que nos levou a estar desconfiados e deprimidos face ao que o futuro nos trará.

Estes senhores não passam de seres humanos, sem possibilidades de melhoria à definição inicial do ser humano. E isto independentemente de acreditarem que os seres humanos são uma obra divina ou um acaso da evolução.

E não estou a identificar qualquer cor ou feitio e muito menos a perdoar, mas são seres humanos com medos e necessidades humanas, reacções e alterações todas elas muito humanas.

Cada um no seu pelouro a representar o que de melhor e pior temos no nosso espécime:

  • Choramingas ou vigaristas;
  • Vitimas ou aldrabões;
  • Fieis ou infiéis;
  • Monogâmicos ou poligâmicos;
  • Protectores ou predadores;
  • Observadores ou observados;
  • Culpados ou inocentes;
  • Acusadores ou acusados; mas
  • Acima de tudo humanos.

Humanos que por vezes são sedentos de dinheiro, outras vezes de comida, outras vezes de sexo, e não são perfeitos. São acima de tudo muito humanos.

Se não tivéssemos depositado tanta confiança nos nossos representantes, lideres, chefes e outros topos de hierarquia, não estaríamos hoje tão decepcionados e deprimidos.

Estivemos em negação. Negação que eles são humanos e por isso iriam falhar-nos.

Teremos de passar pelos 6 estados de morte anunciada até renovarmos a esperança:

  1. Negação;
  2. Fúria;
  3. Negociação;
  4. Depressão;
  5. Aceitação; e
  6. Esperança.

Estaremos em negação enquanto apoiarmos uma politica de show off.

Enfurecer-nos-emos quando virmos os nossos queridos e amigos a serem sugados por recessão e despedimentos.

Negociaremos quando permitirmos que se mantenha a fantochada para garantir estabilidade.

Entraremos em depressão quando nos apercebemos que de nada nos valeu termos estabilidade.

Temos mesmo de aceitar. Por favor, aceitem que temos perante nós nada mais que meros humanos. Pessoas falíveis, incapazes como tantos outros de combaterem os seus instintos mais básicos: sobrevivência e reprodução.

Enquanto não aceitarmos que estes são o que temos, enquanto estivermos a aguardar por D. Sebastião, enquanto não aprendermos a controlar os que temos, não conseguiremos passar para o estado da esperança.

Sem esperança há futuro, mas de que nos serve?

Se eu mandasse

funny-pictures-black-cat-white-catAviso importante: Este texto contém termos impróprios a menores de 18 anos, cardíacos, religiosos, moralistas e outras sensibilidades. Leia por sua conta e risco. Sempre que o site estiver de preto, a probabilidade de encontrar um texto mais agressivo é grande.


“Se eu mandasse nada disto era assim. Se eu mandasse nenhum mal chegaria a ninguém.”

Não é confortável pensarmos assim de nós mesmos?

Não é confortável imaginarmo-nos cheios de beleza virtude e capacidade para avaliar os resultados até ao infinito de todas as nossas acções?

Pode ouvir a conversão para mp3 ou…

Não era bonito que finalmente dessem pela nossa fantástica competência para resolver os problemas do mundo. Que bonito que era se nos dessem as chaves do planeta e nos dissessem: “Força. Guie-nos como entender pelo caminho que lhe convier? Guie-nos a todos nós em direcção a um futuro melhor.”

“Um futuro melhor.”

Que reconfortante.

E tão politicamente correcto.

Sem falhas.

Era lindo…

… mas não vai acontecer.

Este tipo de pensamento têm o mesmo valor que uma diarreia de recém nascido: Só os pais é que estão interessados.

– Será que o cócó do menino está liquido. Será que está rijo.

NÃO INTERESSA! É merda mesmo. Todas as reflexões de como faríamos melhor aquilo que não somos nós que temos responsabilidade de decidir cheiram mal.

O que leva uma pessoa a pensar que teria outras decisões ou oportunidades?

Que presunção a de pensarmos as nossas decisões seriam assim tão melhores.

Não faz cá mais falta quem questione sem solução.

Não faz cá mais falta quem sugira o irresponsável.

“Deviam baixar os impostos”

“Deviam despedir os funcionários públicos”

“Deviam fazer-nos aqui um hospital”

Deviam fazer-me um bico!

Parem de enviar mais uma sugestão irresponsável do tipo força partidária que nunca em tempo algum irá chegar a ter a oportunidade de ser realmente responsável por qualquer decisão.

Não é só deitar a sua posta de pescada. Têm de se lá estar. Sentar-se ao volante e guiar.

Guiar sem hipótese de voltar para trás. Continuar a guiar mesmo que pressionado.

Guiar e ser pressionado a andar mais depressa pelos que vêm atrás.

Guiar plenamente consciente que parar lhe vai sair muito mais caro que continuar e contornar o obstáculo sem saber o que está do outro lado.

Guiar sem tempo para analisar enquanto insistem: “ANDE! ANDE! VAMOS!” Que estamos todos cheios de pressa para voltar à nossa vidinha de pensadores da treta.

Somos uns autênticos Rodin de sanita de casa-de-banho pública. Sentamo-nos, fazemos força, mas só cheira mal. Não passamos de uma boca e um esfincter enquanto não actuamos. Uma autêntica máquina de processar alimentos e com o mesmo resultado em ambas as extremidades.

“GUIE! OPTE! DESPACHE-SE!”

“Diga lá o que pensa disto sua excelência, que queremos todos mudar para a novela e a selecção joga logo a seguir.”

Faça-o e faço-o rápido. Quer mesmo, mesmo, mesmo melhorar isto? Está mesmo, mesmo, mesmo ciente do seu objectivo?

Ignore a sua vida pessoal e pense só no bem dos outros.

Pense só no que é melhor para o planeta. O nosso querido planeta… Que lindo planeta. Que pena estar cheio de esfincteres. E todos os esfincteres só pensam numa coisa: “Era melhor se o outro morresse!”

Siga o meu conselho: SUICIDE-SE JÁ! Acabe com a sua miséria.

Deixe de se lamuriar com as decisões supostamente erradas dos outros e preocupe-se mesmo, realmente, efectivamente e neste momento com os outros.

Esqueça o seu ponto de vista e os outros ficariam muito mais felizes se não tivessem de partilhar o planeta com mais alguém como eles que não chegaram nem nunca vão chegar a lado nenhum.

Mate-se. Corte os pulsos ou tome pilúlas, mas não nos dê mais a sua opinião IRRESPONSÁVEL.

Pare de ler os jornais e os blogs com a opinião dos outros. SIM. NÃO LEIA ISTO! PARE JÁ! VÁ-SE EMBORA! ESTES PENSAMENTOS SÃO MEUS! ESCREVA UNS SEUS! NÃO COMENTE OS MEUS. ESTA MERDA É MINHA!

Faça algo seu de uma vez por todas. Faça mesmo sabendo que aos outros vai cheirar mal.

Salte sem medo de morrer. Salte para a sua vida. Salte sem medo de falhar. SALTE! FAÇA! Mas deixe de nos dar a sua opinião de como o mundo seria tão melhor se as decisões fossem todas tomadas por si.

Imagine só esta imagem: Num barco, no meio de uma tormenta, por entre rochedos, seguem 10 milhões de portugueses, e todos, mesmo todos, mesmo, mesmo, mesmo todos seguem nesse barco agarrados ao leme.

Ou pior ainda: Imagine-se um condutor de autocarro, em plena hora de ponta, num dia de muita chuva. Imagine que era possível ser casado com a filha de todas as passageiras e todas as passageiras eram suas sogras. Agora oiça o que elas lhe estão a dizer…