A Oeste nada de novo.

Pelo caminho muitas coisas mudaram, muitos acontecimentos se deram.

Caíu a ponte, o Ministro e o governo, cada qual pela sua razão.

A ponte caíu porque os ministros não gerem os seus ministérios e institutos com a devida firmeza; o ministro porque precisava de renovar a sua imagem até às próximas legislativas; o governo porque Portugal esquece tudo menos a arrogância.

Dificilmente poderemos esquecer também os acontecimentos em torno dos atentados de 11 de Setembro ou as palavras eloquentes do Presidente dos Estados Unidos da América: “”Dead or alive””.

Aparentemente “”Alive and kicking”” é como está o barbudo mais famoso dos nossos dias. Não obstante continuam todas as partes a afirmar que o viram e à giza malandro de rua dizem: “”Bin Laden? Um senhor forte e bem penteado? Vi, vi. Foi por ali.””

Vai ser difícil aos Estados Unidos e os outros países chamados de industrializados de se verem livres dos senhores Bin Ladens do 3º Mundo uma vez que por cada um que eliminam existe uma população inteira de subnutridos que esteve a ser criado para os substituir.

E a paixão da educação do nosso Primeiro Ministro não tem forma de suplantar os investimentos que os senhores Bin Ladens podem fazer, nem as bombas de combustível podem terminar com os seus sucessores.

O comércio está montado:

Os pobres plantam as papoilas e produzem os estupefacientes que exportam para os outros países, que bombardeiam os seus produtores sempre que estes começam a criar massa critica para evoluírem.

É uma espécie de simbiose entre os países ricos e os países pobre em que os pobres criam razões para os ricos comprarem armas, descarregando-lhes o suprimento de munições no quintal de cada vez que o negócio está pior para os fabricantes de armas.

Enfim… Nada de novo.

Aparentemente em Portugal é um bocadinho mais difícil de montar estes esquemas. Antes de mais nada porque os nossos Bin Ladens estão no futebol e depois porque mesmo que quiséssemos atirar bombas nos estádios, o nosso arsenal está tão por baixo que poderíamos não atingir os árbitros e treinadores e ainda poderíamos falhar algum adepto.

Naturalmente que para ser a panaceia total ter-se-ía de atingir ainda os dirigentes de futebol que na época de defeso em lugar de investirem no plantel, investem em árbitros, o que me leva a perguntar se os programas de desporto não deveriam passar a ser tipo magazine económico com as cotações dos mesmos a passar em rodapé.

Têm-se assistido a tantas más representações em torno do desporto rei em Portugal que mais parece uma novela mexicana.

“”- Pinto, você mi ámá?””

“”- Eu ámu vócêi, mas só até ao Sporting defrontar o Porto novamente. Penso eu de que.””

Natal dos hospitais

O Natal é a quadra mais celebrada pela minha família. Não porque sejamos muito religiosos, que não somos. Fui baptizado e fiz a primeira comunhão, mas o padre depois de me dar a bolacha nunca mais me viu que aquilo sabia a bafio.

Na verdade somos ligados a um consumismozinho matreiro que alimentámos desde pequenos assistindo aos crescidos a jantar longas horas de bacalhau e azeite enquanto em prantos gritávamos em coro “”As prendas. As prendas.””

Nada que não tenha deixado mossa. E porque de mossa, a minha há-de ser num daqueles sítios que só os outros vêem, mas a dos meus irmãos é bem à vista do condutor, de preferência no capota.

Bateram ambos de frente na desorganização natalícia da família e recusam-se a compactuar com tal coisa, numa atitude de “”Quem não é por mim, é contra mim.”” e eu a habilitar-me a ficar sem prendas, pois que as deles, por mais insignificantes que fossem economicamente, eram as que sempre me tocavam mais.

Nada como uma boa confusão armada pela matriarca, para que os irmãos se deixem de falar. Não que eles tenham alguma razão para se chatearem comigo, mas a verdade é que dá mais trabalho chatearem-se com quem os pariu mas eles não escolheram.

A minha percepção é que chego a esta altura sempre com a alma hospitalizada. Seja com quem for, a culpa passa para mim, vá se lá saber porquê.

E lá fico à espera que passe a quadra da prendas para voltar à calmaria do meu lar. A vida é cheia destas coisas menores, mas na verdade é grande como mais nada.

Não sei se por as abarcar, se por ter um sentido sem sentido mas que não deixa de ser. E é com este pensamento da profundidade de uma poça de chuva que vos deixo, para um Feliz Natal e Feliz Ano Novo.

Feliz aniversário

No passado dia 11 celebrou-se mais um ano da minha vida.

Não sou nenhuma senhora, mas por favor poupem-me a divulgar a minha idade.

Não porque não goste de ter 31 anos, mas porque na realidade se trataram de 31 vezes que tive de celebrar algo que nunca gostei muito. Não vejo grande diferença entre o meu aniversário dos 11 anos e este.

Nesse ano, e talvez por pirraça infantil, fiz questão de dar 11 erros no ditado da classe, recebendo a respectiva admoestação da professora que encontrava habitualmente apenas 1 a 2 erros.

O caso é que desde pequeno é mais uma obrigação para mim ter de receber os meus amigos e conhecidos que outra coisa.

E se na altura me angustiava e só conhecia algumas pessoas, imaginem o estado angustiante em que me encontro agora a cada aniversário.

Na realidade, e nesse ano, para minha desgraça lá tive de receber todos os que queria realmente e aqueles que se não convidasse poderiam não achar por bem uma vez que me haviam convidado a mim para as festas deles, às quais acabava sempre por ir pois me era dito que não se devia de fazer a desfeita.

E no meio desta pescadinha de rabo na boca acabava sempre por aparcer mais alguém, em acompanhamento de um outro que por acaso tinha acabado na lista de convidados por ser vizinho ou filho de algum amigo dos meus pais.

O que me angustiava mais era saber que todas estas crianças iriam ter acesso aos meus preciosos brinquedos.

Não era que eu não tivesse por hábito convidar os meus amigos para brincar. Mas esses eram escolhidos a dedo enquanto se comportavam conveninentemente, entenda-se não partiam nada, e corridos a pontapé logo que o fizessem.

Na realidade tive a sorte de reunir junto a mim um grupo de amigos, daqueles de que se costuma dizer que foram poucos mas bons, os quais sempre souberam estar à altura dos planos elaborados que elaborávamos em conjunto para os muitos legos de que era proprietário.

O problema eram os amigos do meu querido, e por quem sempre nutri um amor cuidadoso, irmão.

Esse sim era um terror, e fazia questão de destruir fosse o que fosse que se colocasse ao seu dispor. Infelizmente estes sentimentos violentos foram fomentados por mim e pela minha querida irmã, conspiradora de causas comuns no que tocava a segregar o ervilha, que por diferenciar de mim 4 anos, não dispunha, na nossa opinião, das mesmas capacidades que nós para participar nas nossas intricadas novelas domésticas com que nos deleitávamos nos fins de tarde após as aulas.

Por isso tudo, desculpa irmãozinho, mas tu vingaste-te sempre que pudeste, mas isso fica para outra história.

O primeiro beijo.

Acho que todos temos as nossas histórias sobre o primeiro beijo. A primeira vez, afinal de contas, é sempre um aventura. Decorria a minha fulgurante carreira de estudante da quarta classe, quando conheci a minha colega Sandra.

A Sandra foi, e afirmo-o com segurança, a única loira de olhos azul com que tive algum tipo de relacionamento afectuoso. Talvez venha daí a minha crença nas anedotas das loiras.

Mas a história é pouco complicada. Na primavera desse ano, e por viver no Algarve, como habitualmente passava os meus dias livres na praia, onde me encontrava às escondidas nas escadas laterais do restaurante da praia com a dita loira.

Trocámos juras de amor e inscrevemos os nossos votos com um pico na folha de um cacto que existia ali junto.

Os nossos encontros subiam de tom, o calor apertava, e o desejo mutuo por um beijo parecia aumentar. As cabeças aproximaram-se, os lábios tocaram-se mas logo se afastaram, como se um choque eléctrico os tivesse repelido.

Nesse dia afastámo-nos sem discutir o sucedido, mas continuámos as nossas actividades imperturbáveis. No nosso encontro seguinte, a loira cabecinha havia encontrado uma forma de aumentar a excitação. Como se a que eu sentia sem saber explicar bem não chegasse.

Sugeriu então que nos beijássemos debaixo de àgua para o podermos fazer de forma mais emocionante. Não sei se era esta a sua ideia de um beijo molhado ou se o filme “”Lagoa Azul”” a teria influenciado, mas acedi.

À primeira tentativa aquilo não correu lá muito bem. Ela engoliu um pirolito e ao vir a cima um onda fez o resto. As convulsões e tosses demoraram algo tempo, mas a rapariga recompôs-se.

Ora pareceu-me a mim então boa ideia utilizar os meus óculos de mergulho para lhe facilitar a tarefa.

Compreendem a impossibilidade de duas bocas se unirem num beijo quando uma delas está acompanhada de uma máscara de mergulho? Pois parece que nós não.

Mas as tentativas sucederam-se.

A nossa relação acabou dias mais tarde quando eu discordei dela numa questão relativa a um artigo do infame Jornal do Incrível, que afirmava que um rapaz de 8 anos tinha engravidado uma rapariga de 10. Parece que para a jovem, se estava escrito era verdade.

Na semana seguinte, quando voltei à praia onde passámos as nossas tardes juntos, a folha do cacto onde havíamos inscrito os nossos nomes havia sido selvaticamente agredida e cortada.

Disto tudo tirei duas lições para o resto da minha vida:

1º – A relações não se podem condimentar com o uso de objectos estranhos.
2º – As loiras burras nasceram assim e não há nada a fazer.

Dias de sofrimento

Todos nós tivemos os nossos dias de sofrimento.

Uns porque usámos aparelho, outros porque eramos pequenos, outros porque tivemos de usar óculos.

Eu fui benzido com duas de três. Não que o não ter aparelho me tenha salvo da chacota dos meus colegas, ou que os óculos os tivessem impedido de me usarem como saco de pancada.

Se acrescido disto se arranjar um mala de escola com o dobro do tamanho do proprietário, o cocktail é mortífero.

Como um jerico com carga a mais, a fuga pelos corredores do ciclo preparatório era uma empresa destinada a fracassar.

A salvação descobri-a após algumas cenas de maus tratos.

Quando dava comigo encurralado podia sempre usar a minha mala como malho de guerra, brandindo-a em circulos largos e varrendo os meus oponentes abrindo uma passagem para a salvação.

Não é que eles achassem muita graça, aliás as represálias foram sempre recheadas de episódios indignos do prime-time deste site.

Não levou muito tempo para que os agressores descobrissem que bastava uma mala para parar o impeto do meu engenho.

As vitórias técnicas estão sempre ditadas ao fracasso á posterirori.