Saramago, Biblia e Caim

Não li ainda o “Caim”, mas desconfio que não vai ser tão cedo pois a “Viagem de um elefante” ainda ali está na cabeceira da cama.

José Saramago está velho, e admito que pessoalmente o ainda nosso Nobel da literatura é pelos seus negativismos e ditos pessoa que me merece o desprezo.

Não tomou chá com as tias para aprender modos e o olhar de superioridade não ajuda a engolir as coisas que diz.

Há um mas: tenho de concordar quando afirma que a Bíblia esta repleta de historias medonhas.

A Biblia serviu no seu tempo o propósito de ser o veiculo das convenções a adoptar por todos os membros da sua Igreja.

Estão lá todos os maus exemplos para nos ensinar sobre a maldade e pequenez do ser humano.

Se o ser humano não recebeu nenhuma melhoria até hoje, já não servirá hoje a Biblia para melhorá-lo.

Agora que mudámos as caras em São Bento…

Em São Bento temos novas caras que vamos conhecer brevemente.

Não falo do governo, porque esse tem a cara de José Socrates venham lá que Ministros vierem, mas da Assembleia da Republica.

Todos dirão:
– Eu estou do vosso lado. Farei tudo o que vos disse na minha campanha eleitoral. – Mas não nos dirão o quando. Afinal, quem governa terá de tomar a iniciativa e a oposição terá a reacção que já sabemos: opôr-se.

Quando lá chegam, concluem sempre que é impossível. Isto serve para todos os políticos:
– O antecessor gastou o que havia, deixando-nos a todos na miséria.

Com tanta informação e acto publico, mas depois com tanto desconhecimento, fico com a sensação que os opositores nunca estudaram a lição.

Depois vêm as desculpas do costume:
– A vida está difícil para todos. Eu nem vou poder trocar o meu BM pelo modelo novo. Onde é que isso já se viu. O que é que vem aí a seguir? Ainda me pedem para guiar o meu próprio carro.

Para poupar o dinheiro dos contribuintes vão propor que Institutos públicos sejam fundidos e que outros sejam separados.

O Governo vai dizer que não vai despedir ninguém quando mandar apertar o cinto. Excluiu logo à partida os quadros técnicos, médios e administrativos.
Questionados sobre a razão desta actuação afirmarão:
– Se os despedirmos, quem é que vai efectuar o trabalho?

Como politica de contenção de despesa, o CDS-PP vai investigar e descobrir que alguns funcionários do estado não usam totalmente o subsidio de refeição para comer.

Confrontados com esta descoberta, afirmarão em comunicado que irão propor cortar-lhes o subjante do subsidio. Afinal de contas, se não o usam para comer, é porque não precisam.

O baile está armado. Fico com a ideia que fosse qual fosse o resultado das eleições, eu não ficaria satisfeito com o que viesse a seguir, não porque fosse ideologicamente contra, mas porque a seguir vem sempre as desculpas de mau orçamentista.

Asfixia democrática

asfixia

A oposição em peso fez-se à estrada para acusar tudo e todos os que estivessem ligados ao Governo de mentirosos.

E com isto puseram em causa todos os profissionais e técnicos que, não sendo do Governo, trabalham para o Estado ou para empresas, isto é: todos nós.

Pedem-nos que coloquemos em causa:

  • Os trabalhadores da Segurança Social por atribuirem subsídios a quem não quer trabalhar;
  • Os técnicos do Instituto Nacional de Estatística por fazer as contas ao desemprego da mesma forma que o Eurostat;
  • As policias, por não prenderem e por prenderem;
  • Comissão Nacional de Eleições por não impedir Governo de fazer inaugurações;
  • Tribunais e Ministério Público por não implicarem directa José Sócrates no caso Freeport;
  • Os Administradores da TVI, porque queriam mandar na empresa deles.

Mas quem faz estas acusações não é qualquer um, mas aqueles que querem vir a ser Deputados da Assembleia da República.

Existe asfixia democrática quando os eleitos da nação não acreditam no principio da inocência.

Existe asfixia democrática quando pessoas que se candidatam a cargos públicos põem em causa os meios e aqueles que se propõem a governar.

Teremos Eleições Legislativas ou entrevista de emprego para Primeiro Ministro?

Debate Socrates vs Portas

Porque as Eleições Legislativas estão transformadas em entrevista de trabalho para Primeiro Ministro, e os entrevistadores também têm direito às suas escolhas ideológicas, o esclarecimento só surtiria efeito se os candidatos tivessem sido questionados um a um, e sempre por mais de um entrevistador.

Entevistas deveriam ter sido também feitas aos outros todos que pretendem ser Deputados da Nação e nossos representantes para uma Assembleia que será Constituinte.

Hoje tivemos o primeiro frente-a-frente entre o actual Primeiro Ministro e candidato a deputado pelo Partido Socialista e o Dr. Paulo Portas, também candidato a deputado.

A oposição transformou a sua estratégia eleitoral num ataque ao homem, com o único objectivo é desacreditar o portador da mensagem. Sobre politicas propostas, muito pouco se fala.

O programa de governo que for escolhido vai determinar como será distribuída a riqueza no próximo período legislativo:

  • Se entregue às iniciativa privada para ser re-distribuído conforme as regras próprias da gestão de empresas;
  • Se investido directamente pelo próprio Governo na forma de equipamentos sociais ou outros de beneficio geral.

Os assuntos relativos aos investimentos e economia são tão complexos, que ameaçam fazer cabelos brancos a Professores Doutores de Economia, Engenheiros Civis, e outros tantos que os discutem.

A barreira de fumo está tão densa que se torna difícil para mim compreender se a oposição é contra os investimentos públicos por não concordar, se por não ter ser dela a iniciativa.

Temos um verdadeiro cenário de escolha multi-critério, mas que ninguém defininiu as regras à partida, pelo que o resultado será o de um concurso de popularidade.

O que aprendi com Manuela Ferreira Leite

Grande Entrevista - 2009-08-20 - Manuela Ferreira Leite

Com a entrevista de Manuela Ferreira Leite ontem na RTP e com o que disse até agora aprendi várias coisas que passarão a fazer parte da minha formação:

  1. Posso dizer que não tenho informação suficiente para propor os meus objectivos, mas acusar o meu opositor de não ir conseguir o que ele já se propôs fazer;
  2. Quando chegar a uma posição de poder, devo acabar com qualquer voz que não esteja de acordo com o que eu digo;
  3. Para calar os meus opositores mais vocais, uma vez que não posso fazer-lhes concessões a eles por ficar politicamente fragilizado, concedo aos seus familiares;
  4. Porque não posso falar com ligeireza dos casos menos claros dos meus colaboradores mais próximos, recuso-me a comentar os dos meus adversários;
  5. Se me pedirem um programa de governo para 4 anos, recuso-o até à última hora e ameaço entregar apenas uma folha A4.

Realmente no meio disto tudo parece-me lamentável é:

  1. Que aos funcionários públicos que dependem hierarquicamente do poder político seja exigido o estabelecimento e cumprimento de objectivos num meio que não controlam a iniciativa ou ambiente em que terão de os cumprir.
  2. Que se acuse Portugal de estar asfixiado democraticamente, mas seja o próprio inquisidor fechar a boca de quem democraticamente se pronuncia.
  3. Que quem se recusa a formar governo para garantir o funcionamento do país, admita formar listas com familiares dos seus opositores para garantir o seu sossego.
  4. Que quem acusa alguém que nem foi indiciado pessoalmente, mantenha quem se recuse a prestar provas períciais em caso em que está indiciado.
  5. Que um politico não entenda que é a nós que têm de prestar contas e nos trate com sobranceria e ameaças de nada fazer até lhe ser dado o cheque branco.