No passado mês de Agosto andou por aí um barco onde seria possível efectuar abortos em águas internacionais a tentar aportar no nosso jardim à beira mar plantado.
Questionaram-se as instâncias nacionais, desde lá acima até cá abaixo, se deveriam deixar entrar ou não o referido barco nas nossas águas ou se já que vinha de águas europeias não estariam no espaço Schengen e por isso a autorização não fosse necessária.
Digo lá de cima até cá abaixo pois que desde a prostituta até o padre dos militares, D. Januário Torgal Ferreira, houve a oportunidade de deitar a sua posta para a bancada, sendo depois interpretada de tantas maneiras quantas as possíveis para vender mais jornais.
Digo isto pois que o que D. Januário veio dizer foi que desde que não houvesse crime e pretendessem apenas discutir as ideias, estando nós num país livre, não poderiam impedir o barco de entrar, mas o que se algaraviou nos jornais foi que “Bispo do exército concorda com a vinda do barco do aborto”.
De pouco ou nada lhe serviu dizer: “Mas… Mas… Eu não disse nada disso.” uma vez que “Tá dito. Tá dito!” já que agora “Portugal têm Bispo que concorda com o aborto”.
Desde que no barco dos outros ou posso fazer lá na mesa da cozinha também? E lá vem a velha história da discriminação que convém ver esclarecida: Podemos fazer todos ou só as mulheres?
Eu cá não me interessa fazer nenhum aborto, mas à para aí cada aberração, que pode ser que lhes encha o ego de transexuais e marchants de moda poderem dizer: Ó rica, sabes lá. Aquele aborto deixou-me de rastos. Tou que nem posso.
Os nossos amigos no poder entretêm-se agora em pequenos arrufos de namorados: O Ministro da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar diz que “No meu mar, só quem eu quero.”.
O Presidente da República “Com os meus barcos, só eu é que brinco.”.
Venham lá então explicar-nos: Se só quem brinca com os barcos dele é ele, como demorou tanto tempo o Chefe Supremo das Forças armadas a dar pela falta de uma das suas seis fragatas.
É que o Presidente assim até parece que não querendo opôr-se à oposição que o tal dos ministro pretendeu fazer, opõem-se só agora que o barco já não vêm. Afinal até nem se opõem muito. Só um bocadinho.
E na sua Casa Militar, dos seus Chefes da Casa Militar, assessores, ajudantes de campo, oficiais das Forças Armadas, secretariado e pessoal administrativo não há para lá um que saiba onde guarda o nosso ilustre Presidente os seus barquinhos?
É que se der para o torto, podem virar-lhe os obuses para cima da casa. “Ó Presidente, dê lá outro rumo a este barco, antes que isto meta água.” E o Ministro, com um nome tão pomposo não convém questionarmo-nos “E que Assuntos são esses?” Biquínis e praias de nudismo?
Ou lá vamos nós ficar a saber que auditaram as praias do nosso litoral para saber se falta algum grão de areia? Se falta alguma coisa é coerência. Se o ladrão rouba, vai preso.
Se o empregado leva sem pedir, é despedido. Se o ministro usa sem poder “Há esse assunto? Já está fechado. Não se fala mais nisso.”
Venha ou não venha o Barco do Aborto, a confusão está instalada. Mude-se a agenda política.
Pensavam eles que depois de se desresponsabilizarem de tomar uma posição com o malfadado referendo do aborto, também conhecido pelo referendo das questões mal colocadas, já não tinham de se chamuscar mais com o assunto e que só tinham de aturar os acessos de mau e efusivo comportamento da camarada Odete Santos.
O Presidente, que não queria saber dos barcos, agora já sabe e vai ter de falar sobre o assunto.
O Presidente que se esquivou de tomar uma posição em relação ao aborto, tomou uma sem saber. Ou melhor, factualmente e cientificamente não é possível afirmar uma negação, assim lá fica a dúvida a sobrevoar as cabeças dos senhores políticos.
O Ministro, que não tinham posição tomada do Chefe Supremo, chegou-se à frente e tomou-a ele, que nisto de pôr e dispôr é lá com ele. Os deputados, para mostrarem serviço até já dizem: “Então a gente fala com as senhoras.”
E assim aproveitam para aparecer na fotografia dentro ou fora do barco e responderem à pergunta dos jornalistas “É a favor ou contra o aborto?”: “Estamos aqui para ouvir o ponto de vista destas pessoas, para podermos avaliar e tomar uma posição.”
Ou antes “Deixe-se lá de perguntas e diga lá o que é que eu posso responder que não me faça cair do poleiro, que com os preços das coisas sempre a subir, aqui é que estou bem.”
Está bem para eles, que nós é que lhes pagamos as contas. Um dia havemos de rever a situação, pois que quem paga as contas deveria poder dizer onde as queria ver feitas, ou melhor, como queria o seu dinheiro gasto.
O Barco do Aborto foi noticiado à laia de “Love boat” mas com um adicional: “You make love. We take it out.” O nome mais apropriado até nem seria barco do aborto, mas sim “After love boat”.
No barco holandês somos capazes de encontrar em lugar dos Comissários de bordo com o barman cómico e a loira com ar de parva a animar o convés, as matronas holandesas e os yupies feitos protestantes a receberem-nos, eles de membros superiores abertos em boas vindas, nós de membros inferiores aguardando a vez de abrir a más vindas.
Será que algum dirigente nosso ficou com medo que no meio da confusão o raspassem a ele também onde o sol não ilumina.
Provavelmente nem se importariam era de ser rapados, que nesta coisa dos procedimentos cirúrgicos, pequenos ou grandes, eles não querem lá os pelos para nada.
E se para voltarem a não ter passado tivessem de ser rapados, pois que seja. Uma situação algo estranha, pois que em lugar dos animadores de convés, devem ter os rapadores de convés.
Em lugar “Welcome aboard the Pacific Princess” seria “Welcome aboard, sua badalhoca deslavada que não teve a coragem de mandar companheiro brincar sozinho quando este não quis pôr a borrachinha.”
E em vez de “Esperamos que tenha uma boa viagem.” algo como “Esperamos que tenha uma boa raspagem”.