A conversa começa sempre assim. “”… aquela da loira que…””. Acaba sempre por descambar em parvoíce e situações ridículas.
Rimo-nos do que podemos: Das loiras, dos baixos, dos gordos, dos alentejanos, dos pretos, do cigano, “”aquela do inglês, do francês e do português””, os cães, os gatos, deus e o menino Jesus, o Samora Machel e o Papa, ninguém está livre de uma boa risada.
Mas nunca oiço ninguém contar uma anedota sobre um homem normal, adulto, caucasiano, com família composta de mãe, 3 filhos, cão, piriquito e sogra acamada, pois parece que não há nada de engraçado para contar.
“”Vocês sabem aquela do gajo que chega a casa e a mulher estava na cama com o cão e os três filhos a ver o Big Brother? O cão disse que queria mudar de canal.”” – Segue-se o riso enlatado com o rufar do tambor. O absurdo das nossas vidas é que nada têm de absurdo.
É isso mesmo. Somos todos tão normais que não é normal. Normais ou normalizados, não há grande diferença.
Na realidade o ponto da situação é que normalizamos as situações para posteriormente lhes introduzirmos uma linha final de anormalidade com que nos divertimos, não nos apercebendo que nos estamos a rir da quadratura do circulo.
Quase ninguém conta anedotas com eles próprios como actores principais a não ser os palhaços.
Assim quem conta histórias em que ele próprio é o protagonista é visto como uma figura triste e pobretanas que poderá ser equiparado aos ditos.
Infelizmente é o juízo feito pelo colectivo, mas o colectivo, como todos nós sabemos é uma massa amorfa que segue as vozes mais discordantes, independentemente de estas o fazerem de forma coerente ou não.
A verdadeira capacidade de nos elevar a um estado de alma que nos deixa em concordância e felizes com nós mesmos, é a capacidade de rirmos dos nossos próprios erros e desgraças.
Essa capacidade extrovertida prova que estamos bem com nós mesmos e não que temos menos amor próprio. Naturalmente que quem conta os seus erros e desventuras em público fica exposto aos que dos erros dos outros se usam para subirem na sua carreira profissional e social.
Os verdadeiros palhaços, pobretanas e outros insultos que agora não me recorda, são os que não tem mente fecunda que baste para encontrar o lado feliz da sua vida e para pensarem que quando isto tudo passar, poderão contar aos seus as suas façanhas, aventuras e desventuras.
Uma anedota acaba então a ser uma história que por se revestir de pormenores que a tornam mais ou menos gostosa, dão mais ou menos prazer a quem a houve.
O verdadeiro contador de histórias traduz sentimentos pelo que diz, de felicidade, de tristeza, de expectativa e outros que se adaptem à causa a descrever.
O contador de anedotas traduz da história, primeiro a expectativa, depois o espanto pelo desenvolvimento menos esperado da situação em causa.
Assim rimo-nos apenas porque finalmente conseguimos aliviar a tensão e a ansiedade criada em nós pela história em si. Por isso, conte anedotas sobre si mesmo.
Não lhe traduz o “”Meaning of life””. Os Monty Pittons também não o fizeram no seu filme.
Pelo menos alivia a ansiedade que sente em relação à sua própria vida passada e futura.