Portugal é um país de cor, de variedade, rico em detalhes. Temos de tudo, desde o “há pipis” e o “fiado só amanhã” até à capacidade de inovarmos no meio dos anos da austeridade.
A oposição ao atual governo é, ela própria, uma imagem de parte do nosso país. Cheia da cor, rica nos detalhes, com as suas incoerências, com uma visão ultrapassada de funcionamento do país e incompatibilizada com a Constituição da República e com as suas instituições.
Foi penoso ver que só nesta legislatura esta oposição percebeu o que era uma democracia parlamentar e como se garantiam os governos. A Constituinte não desenhou a Constituição para sermos um país de absolutistas eleitos, mas foi ao que se foi assistindo com os partidos a perderem cada vez mais a capacidade de governar em compromisso.
Ainda agora vemos esta oposição a pedir reformas ao sistema eleitoral: mais votos para o vencedor e ainda menos meios para quem tem menos votos. É uma oposição que procura favorecer a cartelização parlamentar, onde uns poucos são intermediários de todo o poder, independentemente da sua ideologia… amorfos… apolíticos… Apenas eles com acesso ao poder.
Temos a oposição que temos.
Uma oposição que procurou e procura ainda ludibriar os seus eleitores, os mesmos eleitores que ainda vão votando nela. Uma oposição que diz aos seus eleitores que este governo é ilegítimo porque “na tradição parlamentar portuguesa quem vence as eleições forma governo.”… E formaram, mas só para perceber que até no Parlamento o poder democrático vem dos votos e não da tradição, só para perceber que a Constituição da República não é o obstáculo para as soluções de governo, só para perceber que o desenho da nossa democracia procurava compromissos e não consensos.
É a oposição que há.
Uma oposição que levou um ano a dizer: “não estraguem o bom trabalho”… que estávamos a destruir os sacrifícios dos portugueses… só para agora vir desdizer-se, afirmando que este governo lhe copiou a receita.
É a oposição que vemos.
Uma oposição que desvaloriza todos os dias nos partidos a coragem para no Parlamento procurarem compromissos, que acusa os partidos de se subjugarem por aceitarem compromissos, que preferia posições extremadas em que se quer tudo e, por isso, tudo é justificado. Que preferia um Parlamento a discutir a manutenção do nosso país na NATO e na União Europeia a resolver os problemas mais prementes dos portugueses, como o desemprego ou a perda do poder de compra.
Foi a oposição que se arranjou.
Uma oposição que não se regenerou, que se apresenta agora com as mesmas figuras que não conseguiram formar um governo, e nem percebe porquê. Que disse aos portugueses que não havia alternativa, que aceita que do exterior nos venham dizer que foi tudo culpa nossa, que ameaçam continuamente com um diabo que há de vir, que ignoraram que Portugal, pequeno como é e com o endividamento que tem, dificilmente consegue contrariar na sua economia o contexto global em que está inserido.
É uma oposição que diz ter tudo.
É uma oposição que quer fazer crer que todos os partidos são iguais para ver se nos esquecemos de quando prometeu não cortar ordenados e 13º mês, só para depois o fazer. Que destruiu o rasto a auditorias, só para poder dizer que nada fez de mal. Que diz que combate os ordenados elevados dos nomeados para cargos públicos que ela própria nomeou, só para depois colocar tetos nos vencimentos de todos os trabalhadores de todo o tipo de organizações. Que se diz liberal, mas só quando é para retirar direitos aos trabalhadores.
Mas será esta a oposição que queremos?
A oposição que este país merece percebe que o pior para Portugal é que não nos adaptemos um bocadinho de cada vez.
A oposição que este país precisa não se agarra ao seu ideal imaculado e prefere trabalhar no Parlamento para ganhar um compromisso de cada vez.
A oposição que melhor serve Portugal trabalha para o nosso país todos os dias.
A oposição que ajuda Portugal a cumprir os seus compromissos é aquela que se senta na mesa para deliberar, fecha um compromisso e entrega ao país pelo menos uma parte dos seus ideais.
(Texto de opinião publicado no Acção Socialista – 12 de junho de 2017)