A pior coisa que pode acontecer ao Natal de qualquer um é aquilo que nos acontece mesmo: alguém decidiu redecorar as nossas estantes e prateleiras ofertando-nos com… Um bibelot.
O bibelot é aquele objecto pretensamente de decorativo que nos podem oferecer no Natal. O Natal é assim um salvo conduto para que tudo o que há nas lojas e ninguém ainda tinha comprado entre lá em casa.
O bibelot é algo que se usa para tentar compor uma irremediável má escolha em decoração, numa tentativa de dar sentido a uma composição falhada, criando uma cacofonia visual onde não pode haver nenhum espaço vazio.
A desculpa de que o bibelot é um objecto de decoração, leva-me a concluir que mais decorativo só o cérebro de quem os oferece.
Quando comprei os meus moveis e prateleiras, era para lhes por as minhas coisas em cima. Aquelas coisas a que eu dou uso e não objectos de pseudo-contemplação.
Faz-me tanta falta um bibelot nos meus moveis como faz falta um gay casado com uma pessoa de outro sexo.
Bibelot é mais gay que casamentos de pessoas do mesmo sexo. É gay no sentido que é preciso ser-se um para gostar de um.
Não que eu tenha alguma coisa contra casamentos de pessoas do mesmo sexo ou gays, mas é que eu nem participo de um nem sou do outro.
Pior mesmo que bibelot, só mesmo bibelot com aspirações a objecto de arte. Um objecto de arte ganha em geral valor de mercado com o passar do tempo. O bibelot ganha pó.
O bibelot aparece sempre por trás de uma desculpa do tipo: “Não sabia bem o que oferecer…” ou “É só uma lembrançazinha…”.
O momento da oferta do bibelot transforma-se em si mesmo num paradoxo: alguém dá algo a alguém com o objectivo desse alguém saber que foi lembrado, só para que esse alguém deseje por isso ter sido esquecido.
Este Natal salvem uma estante: não ofereçam bibelots.