O Debate do Estado da Nação ficou marcado mais uma vez pela habitual troca de mimos entre Deputados.
Tivemos neste debate teimas entre Rangel e o Presidente da Assembleia em que uma interpelação à mesa sobre o decorrer dos trabalhos se transformou em discurso e trocas de pedidos de silêncio quando se têm a palavra entre os vários oradores.
O ponto alto foi o episódio dos corninhos feitos com os dedos pelo ex-ministro Manuel Pinho. Ainda não se percebeu muito bem se destinados a Francisco Louçã, se para a bancada do PCP.
Os piropos trocista trocados entre acusações de corrupção e manipulação, num crescendo de acusações mútuas entre PS e PSD, maus comportamentos entre todas as bancadas e a falta de educação generalizada dos que deveriam dar-nos o exemplo, apenas desviam a atenção do essencial, reservando-nos o comentário para o acessório.
Ana Drago do Bloco de Esquerda deu mesmo em tempos inicio a uma nova forma de à partes: bater na bancada e gritar durante uma sessão de trabalhos da Comissão sobre a Educação, o que espero não se torne moda.
As coisas estão tão exageradas e extremadas que já tivemos Deputados a prometer chegar a vias de facto.
Esta actuação daqueles que deveriam ser o exemplo para a Nação, deixa no ar um não sei o quê que faz lembrar aqueles tempos de escola em que os colegas cheiravam em torno dos colarinhos uns dos outros para descobrir quem tinha empestado a atmosfera.
Somos um grupo de descontentes não porque cheire mal de verdade, mas porque alguém com menos rigor se encontra em estado de histeria aos urros e apitos no meio da praça pública a apontar o dedo sem ter de provar.
O pior cenário é o que agora assistimos, em que os herdeiros dos revolucionários de Abril mascaram de liberdade as calúnias em que suportam o seu status politico.
Esperemos que os métodos que transformaram no que é hoje o futebol português não se convertam na nossa politica, transformando-a em algo tão nefastamente extremista e religioso como é hoje um desafio de futebol, em que não interessa se está correcto, mas sim que clube prejudica ou não beneficia.
No pior cenário, um programa que passaria a fazer furor seria algo do tipo “Domingo Político” com os melhores insultos da semana e a discussão das polémicas mais acesas.
Os comentadores podiam ser os mesmos, com todo o respeito que lhes é devido:
- Pelos tios cosmopolitas, da nova facção democrática e pluralista liberal, o nosso já conhecido comentador de tudo até romances, Pedro Santana Lopes.
- Pelos queques rurais, da habitual facção conservadora social democrática, Francisco Seabra.
- Pelos faciosos do norte, podiam manter o Poncio Monteiro.
“Ó Poncio, não viu que a acusação feita pelo deputado é completamente desproporcionada? Olhe para as imagens.” – afirma Santana.
“Não estou a ber nada, além disso eu num sei se as imagens são de agora ou de depois. Não se percebe nada. E mais. O Presidente da Assembleia sabe se bem de que partido é.” – responde Poncio deixando a suspeita no ar.
Isto é mais assustador quanto maiores são as parecenças. Com a ajuda de um qualquer politico acabado pode compôr-se o ramalhete muito melhor.
Mas isto desvia-nos das pergunta essenciais:
- Afinal isto está bom ou está mau? – Fiquei sem saber.
- Não deve estar tão bom como gostaríamos, mas está assim tão mau? – Está muito mal para os cerca de 9,3% de desempregados e para os pensionistas de piores recursos, mas aparentemente bem para os abstencionistas.
E voltamos ao inicio: Isto dá mesmo para dar mais e melhor porque se trata de um Mercedes, ou temos uma bicicleta e agora queremos ir fazer corridas para o autódromo?
De um lado temos “nós” os Deputados com acesso e tempo para analisar os números e do outro “eles” o povo que lhes delegámos o nosso poder. Parece-me que nem o “nós” sabe nem o “eles” quer saber se temos bicicleta ou carro de corridas.
Assim, de um lado o “nós” grita “Criativo”, traduza-se “Aldrabão” e do outro responde-se “Gastador”, traduza-se “Ladrão”. O “eles” comenta “esses malandros” sem perceber, mas ficando sempre com a sensação que foi enganado.
Talvez devesse haver maior rectidão entre o “nós” e o “nós”, obrigando o “nós” a provar, tal como nos tribunais, as suas acusações contra o “nós”, mas isso iria tirar o colorido e o espectáculo.
Talvez deixássemos de nos interessar, pois tal como no futebol, se acabar a polémica, perde o povo o interesse e os ódios clubisticos, baixando o fervor e a assistência.
Com a confusão que se vai gerar na Câmara de Sintra e Lisboa, talvez fosse melhor eu alterar o texto e tirar de lá o nome dos candidatos… nã! E depois qual era a graça?! :o)
Fiquei a saber que os corninhos eram para o deputado do PCP “parar de marrar” com a questão das minas de Aljustrel.